"O dom que Deus me deu, eu dedico a você"



Hoje o choro caiu, como cai de uma criança que se machuca.
A sensação de perder entranhas, de vazio, de tristeza veio aumentando de quarta para cá. Como se a ficha que foi caindo, foi arrancando devagarinho algo de dentro de mim. Nesses dois dias, pareceu-me impossível, inacreditável.
Dos 8 aos 18 aproximadamente, esse cara foi o dono das verdades que adotei.
O que ele falava era LEI, era motivo de inflamação, de gás. Uma idolatração quase histérica, por alguém que falava o que eu sentia e que me incitava a lutar, a não aceitar, a resistir à sociedade e tudo o que ela trazia.
Com o tempo veio a maturidade. Na verdade ela chegou um pouco bruscamente: com a troca da banda inteira eu percebi. Percebi tudo. Fiquei com raiva dele. Ele mentiu para mim esse tempo todo. Ele tinha muito dinheiro e estava amando aqui. Radicalmente fiquei revoltada, brava, senti-me traída. Chamei-o de 'porco capitalista' (expressão criada por ele mesmo). Fiquei em um confronto comigo mesma, pois eu queria ouvir mas estava chateada demais. Aí ouvia. Mas depois eu fui aceitando que dinheiro é bom e todos gostam de um conforto. Veio a fase de aceitação. Voltei a ouvir com a mesma paixão. Não, não com a mesma. Estava mais dissolvida, mas ainda me fazia delirar, refletir, pensar, indagar. Suas músicas de fé, coragem e persistência me ajudaram muito na época da minha depressão.
Além disso, aprendi a escrever ferozmente quando tinha vontade. E eu sempre tinha. Muitas poesias desta epoca trazem traços fortes da influência dele.
Esses últimos dias foram pontuados por lembranças, lágrimas espaçada, por negação do ocorrido, por vontade de xingar até não poder mais. Por frustração.
Ele foi vítima da sociedade que ele tanto criticou. As pessoas mais sensíveis não aguentam apressão desse mundo.
Fica aqui o meu adeus e meu agradecimento. Pois a importância que ele teve na minha vida só eu e quem esteve perto de mim sabemos. Com seus bons e maus exemplos.
"Ele descobriu que é azul a cor da parede da casa de Deus"

Três fotos da minha adolescência. A influência dele era tão forte sobre mim, que eu usava camisetão, bermudão e tênis de Skate.Além de ter colocado lentes verdes. Algumas pessoas passaram a me chamar de 'filha bastarda do Chorão' rs
Meu armário, no tempo das vacas magras, era composto por 11 camisetas: 9 do CBJr, uma do Hard Rock e do KISS.


 Foi uma época de shows frequentes, histeria monstra no gargarejo, cantando, chorando, berrando. Depois, era de Lei caçar o camarim, brigar com os seguranças dos locais e por fim, encontrar os caras da van e ficar conversando com eles enquanto esperava os meninos da banda saírem. E mais choros, abraços, autógrafos, conversas, risadas. Eu nunca fui o tipo de fã que dá em cima, que ama o cara como homem. Eu sempre fui o tipo de fã amiga, que fala do trabalho deles e de política. Isso fazia a diferença.
Meus VHS ainda estão ali,na gaveta. Com recordações de inúmeros programas que ele ou a banda participaram. Vai demorar para saírem da gaveta.
Pois, por mais que eu tenha pensado: "Puxa, pelo menos isso não ocorreu naquela época, a qual eu certamente ficaria muito deprimida", eu estou mais triste do que pensei.
Hoje o choro caiu, como cai de uma criança que se machuca.
Pamella Vidal Serrano
08/03/2013

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