O Drama do Banheiro!

Quase toda criança adora dormir na casa do amigo, e eu não era uma exceção. Aos oito anos mudei de novo de cidade e fiz amizade com uma menina chamada Juliana; estudamos três anos juntas até mudarmos cada uma para uma escola diferente.
Não demorou muito para nossas mães se conhecerem, uma conhecer a família da outra, passar fim de semana e até mesmo viajar para a praia junto; éramos inseparáveis! A coisa mais gostosa que tinha era quando íamos direto da escola para a casa da outra. Ficávamos inquietas e fazendo planos.  Quando batia o sinal para ir embora, era um friozinho na barriga, uma felicidade incontrolável. Certa vez, foi dia de eu dormir lá. A Tania e o Germano, mãe e padrasto da Ju sempre foram muito legais e atenciosos comigo. Sempre ríamos muito, brincávamos, era sempre muito divertido. Tive ótimos momentos que guardo na memória com muito carinho. Ah, eles tinham também uma cadelinha – a Lady, ou Leidoca- que nem era muito grande, mas eu morria de medo de cachorro, mesmo sendo boazinha como ela era!
Mas, uma noite eu acordei muito, mas muito apertada mesmo, morrendo de vontade de ir banheiro. Na casa tinha dois: um no quarto do casal e um lá fora (onde eu teria de passar pela Lady). É claro que eles sempre me deixaram à vontade, mas fiquei sem graça de invadir o quarto deles assim, no meio da noite. Fui até a porta, enrolando a barra da camiseta com o dedo, coloquei a mão na maçaneta, mas retesei. Não queria incomodar. Meu xixi querendo dar o ar da graça. Dei meia volta e andei gingando até a porta da cozinha, virei a chave e coloquei a mão na maçaneta... pensei na Lady. Fechei os olhos com força, aquela vontade de ir ao banheiro e eu passando por aquele drama. Deem um desconto, sou libriana. Eu sofria; a vontade estava virando dor. Resolvi ir ao banheiro do quarto, mas parei no meio do caminho. Fiquei olhando para a porta. O xixi não ficaria dentro de mim por muito mais tempo. Decidi. Agora eu vou. Caminhei decidida, levei a mão à maçaneta e me imaginei entrando no quarto, tropeçando em algo muito barulhento e acordando meus anfitriões no maior susto. Desisti da ideia e já estava começando a pensar que pudesse ter algum vasilhame, qualquer coisa que eu pudesse jogar fora depois. Mas é claro que caí na real. Pensei em acordar a Ju; então fui até a cama dela mas fiquei com dó de acordá-la. Coragem, mulher! O xixi ia sair, e eu comecei a chorar baixinho. Não dava mais! Precisava encarar a Lady, de uma vez por todas.
Tomei coragem, andando meio rápido (estava na portinha!), abri a porta da cozinha, olhei ao redor e nem sinal da Leidoca. Desci os degraus devagar para não correr o risco de acordá-la. Tentei andar o mais rápido possível que eu conseguisse com aqueles passinhos silenciosos. O quintal não era muito grande, mas demorou uma eternidade na minha cabeça exagerada e dramática. Vai sair, vai sair... Quando a gente começa a se aproximar do banheiro a vontade vai aumentando incontrolavelmente. Pouquinhos passos me separavam do grande alívio! Poderia até sorrir de alegria, se esse movimento não contribuísse para relaxar meus músculos internos e causar um incidente, logo agora tão perto da vitória. Ouvi um barulho, olhei para o lado aterrorizada e vi Lady, correndo feroz em minha direção, pronta para atacar (claro que ela só queria brincar). Qualquer criança normal no mundo iria entrar no banheiro para se esvaziar e depois dar um jeito de encarar a “fera”; eu não. Não lembro se eu gritei, mas saí correndo de volta para dentro da casa, com a Lady correndo atrás de mim. Que desespero! Era o fim... além de fazer xixi na calça eu seria atacada. Subindo a escadinha, meu chinelo dobrou na frente e eu tropecei, perdendo o calçado. Larguei ele à sorte, esperançosa que ele distraísse minha caçadora. Ela ainda tentou entrar em casa, mas fechei a porta a tempo. Como eu era uma criança de muita atitude, comecei a chorar e voltei paro o quarto, conformada com meu destino. Logo a Tania acordou e foi me socorrer, perguntando o que houve. Contei que eu estava apertada e ela me salvou. Agradeci muito e voltei a dormir. Isso tudo aconteceu muito rápido, mas no momento, pareceu que o tempo se arrastou.
Eu continuei visitando essa família tão querida, continuei boba, mas o medo da Lady diminuiu um pouquinho e hoje em dia amo cachorro, brinco, amasso, aperto! Só depois que eu me mudei mais uma vez de cidade é que fomos nos distanciando fisicamente, mas temos contato até hoje! (Santa internet!)

Não me lembro realmente se cheguei a contar detalhes dessa minha pequena aventura noturna para a Tania e para a Ju... mas agora elas vão saber, dezoito anos depois!

Pamella Vidal Serrano

Comentários

  1. KKKKKKK, Pamela vi agora seu post, Estou rindo e chorando ao mesmo tempo. Rindo pela sua aventura com a Lady, que foi a cachorrinha mais mansa que vi na vida, kkkkkk e chorando de saudades deste tempo que foi muito curto e passou muito rápido. Sempre te amei com admiração e você sabe, sempre digo e direi, pois é a pura verdade. Amava quando vinha aqui em casa, aliás estes dias vi as fotos de vocês bagunçando no quarto. Ô saudades.....O bom da vida é isso: momentos preciosos, amizades que duram uma vida toda, mesmo com a distância. Amei sua história e fico muito feliz em saber que desde pequena a "superação" faz parte de você. Obrigado por fazer parte de nossas vidas.

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